"Desculpa lá mas toda a gente está a cuidar da sua vida. Cada um age pelos seus interesses e por aquilo que tem a ganhar! Ninguém dá nada a ninguém, todos são assim e se tu não admites isso a ti mesmo, é porque não tens coragem de enfrentar a verdade!"
De nada adiantou tentar argumentar. "Os outros" e "Toda a gente é assim". Generaliza-se os nossos próprios defeitos e, como num passe de mágica, deixam de o sêr. Se "todos são assim", então não é um defeito. É assim. Como o céu é azul ou a erva é verde.
Os tempos que correm não são fáceis. Para ninguém. Dúvidas, incertezas, medos, inseguranças. Os faróis revelaram-se fogueiras de piratas. E cresce uma revolta no peito, daquelas revoltas revoltadas contra tudo. Até contra a própria revolta. A revolta aquece. Até ferver. Transforma-se em raiva. Mas o comodismo, as desculpas, o cansaço, arrefecem-na. E transformam-na em egoísmo. Quanto mais quente e irracional fôr a raiva, mais frio e calculista se torna o egoísmo.
"Mas há quem faça ou dê sem que seja movido pelo seu próprio interesse! Bolas, isso é muito triste de se ouvir! Quer dizer que tu não fazes nada que não seja apenas porque serve os teus propósitos ? Será que um pai ou uma mãe, dão amôr e carinho aos filhos para seu próprio interesse ?"
De nada adiantou argumentar. Todos são egoístas. Ponto. E os ilustres casos conhecidos de generosidade ou altruísmo deviam sêr submetidos a psicanálise e consequente certificado de insanidade mental!
A generosidade ferida de morte pela sobrevivência. A alma vergada ao peso do consumismo mundano. O mundo ficou tão perto mas, no entanto, ficamos mais sós. E o espanto de quem não percebe, depois um tremendo choro compulsivo vindo não sabe de onde, porque se sente vazio e com vontade de tomar Xanax...
Tenho que deixar de ter algumas conversas com esta malta!.
Está a chover. Sinto o cheiro da terra molhada invadir-me. Sorrir...