Este tipo de resoluções até entendo. O que não entendo mesmo é a necessidade de tomar “decisões de vida”. Talvez seja um fenómeno decorrente da cada vez maior empresarialização do mundo: ano novo, novas decisões de gestão!
Ou então com uma tremenda indigestão ou ressaca em cima! “Bem, resolvi que tenho que ter pastilhas Rennie e Gurosan sempre à mão…”
“Vou deixar de fumar!” E, vai daí, toca a ir com os amigos até à Gossip torrar dois maços de tabaco numa noite. “Não, depois de hoje é que é!”…
No entanto, creio que muito boa gente acaba por fazer o mesmo. Achar que vai cumprir (ou, pelo menos, tentar) decisões tomadas no primeiro dia do ano!
Mas a noite passa, o dia passa. E, aos poucos, apercebemo-nos que nada mudou. Que os papéis em cima da secretária continuam os mesmos. Que o Sr. Fernandes continua a dizer “Bom-dia” como todos os dias o diz. Que a vizinha solteira do 2º esquerdo continua a sorrir-nos daquele jeito… Nem aquele flirt platónico com a miúda gira que se conheceu nessa noite, no meio de copos e música, muda o coração ou a alma…
Olho para trás. Mais um ano. Momentos, maús, bons… O que ganhei, o que perdi. O que conquistei, do que desisti…
Amanhã é outro dia…
P.S.: a tira do Calvin não é fortuita. Ele é o meu héroi…
3 comentários:
Ao contrário de ti, compreendo bem a necessidade de, na entrada de um novo ano, definirmos novos projectos e novos desafios. Não lhe chamaria vertente empresarial da coisa, mas antes necessidade de adaptação a uma realidade que não tende a mudar por si só. Se na nossa mente conseguimos trilhar caminhos, ajuda-nos a segui-los, porque seguramente já devemos ter ponderado todos os prós e contras das novas decisões. Mesmo que por algumas vezes nos desviemos do caminho, estamos certos que um dia conseguiremos seguir em frente e não olhar para trás.E nesse dia, vamos sorrir e dizer: CONSEGUI!!!
Não duvido e, o que escrevi, não é, de modo algum, qualquer tipo de crítica. "Cada um é como cada qual"...
O que eu não tenho, nem sinto necessidade, é de tomar resoluções e prender-me a elas. A determinados níveis, já deixei de fazer planos e muito menos establecer metas ou prazos. Não porque, no passado, não tenha tido vontade de os fazer. Mas, entretanto, descobri que a vida tem uma forma muito curiosa de nos trocar as voltas.
Mas, mais uma vêz, isso depende de cada pessoa e do que cada uma viveu. Uma coisa que eu sei em mim é que eu não olho para trás por não ter cortado amarras com o passado. Por isso é que não estableço timings.
As minhas decisões e resoluções são tomadas quando sinto que é altura de as tomar. Quando cheguei ao fim da linha num determinado processo. E isso dá-me uma enorme segurança e paz quanto a mim e aos caminhos que vou trilhar. Mesmo que não saiba quais serão. Qualquer coisa do tipo, "não sei por onde vou mas sei que não vou por aí..."
Concordo nesse sentido, não ha datas ou prazos que nos libertem ou que nos façam mudar estruturas criadas e enraizadas. No entanto, quando as alturas certas não surgem dentro de nós, quando dentro de nós não conseguimos entender e encontrar o fim da linha e isso nos agonia, temos de forçar o que não surge naturalmente. Caso contrário, a vida torna-se numa roldona encravada que não anda, apenas nos deixa suspensos por tempo indeterminado. E corremos o risco de quando finalmente achamos que estamos preparados para o que seja, a vida já vai longe.
Há alturas que não podemos simplesmente deixar ao sabor do vento, da vontade, do desejo ou da mão divina. Acredito que essas resoluções não surgem dentro de nós como um click e que, se olharmos bem bem dentro de nós sabemos perfeitamente o caminho que, pelo menos não queremos seguir. O que pode levar tempo é ganharmos coragem para o balanço e enfrentarmos as consequências das acções que devemos tomar. Porque isso pode implicar perdas ou ganhos que não sabemos se queremos dar como factos consumados.
Também é verdade, que o passado não se apaga, que as vivências nos moldam e nos fazem ser mais ou menos cautelosos na hora de trilharmos caminhos que podem não ter retorno. Isso às vezes também nos pode tornar um tanto ao quanto desviantes do sentido de tudo, ao ponto de não vermos o que provocamos ao nosso redor.
O que me trilha a mim, é pegar o touro pelos cornos e enfrentar o que vier pela frente, quer isso seja positivo ou negativo. Ainda mais quando os nossos caminhos não se trilham apenas por nós próprios e deixam marcas em nós e nos outros.
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