domingo, 18 de setembro de 2011

Até um dia...


Avô




Feitio tramado. Não que me possa queixar. Mas estes últimos 10 anos fizeste a cabeça em água ao pai e à mãe! Da-se!!!

Não sei que te diga. Há coisas que nunca entendi bem. Conseguias criar uma revolução em qualquer lado, com qualquer pessoa. Menos comigo. Cheguei a ter que me por em "bicos-de-pés" para te controlar. E tu aceitavas!

Feitio de treta! Arrogante, vaidoso, orgulhoso, agressivo, beligerante, intolerante, anarca, ingrato... Eras um poço de defeitos! Mas...

Não sei que raio se passa com o nosso lado da família. O lado dos gajos parece que foi forjado num dia de tempestade, de mar revolto! Espada numa mão, bandeira na outra!

Mas também conheci o teu outro lado. Aquele que me deste. Sempre tiveste um orgulho tremendo em mim. Mesmo quando não o merecia. Mas sempre o tiveste. E foste tu que, quando eu mal aprendi a lêr e escrever, me ofereceste os meus primeiros livros. Seguidos de tantos outros...

Pontaria  que tiveste. O mais certo é ter sido fruto do acaso mas o Spirou e o Fantásio continuam a sêr os meus heróis. Tudo bem, entrentanto apareceu o Calvin. Mas são os meus heróis. Livros de História, de Ciência... Astronomia, Geografia. Eu devorava tudo, e tu sabias disso!

Treta da genética, do Y que passaste para o pai e ele para mim que me tem dado tantas dores de cabeça. Obstinados, combativos, teimosos, exaltados (às vêzes, só às vêzes)...
Mania de sêr explosão iminente, inconformado, revoltado, exigente, intransigente! Culpo-vos de tudo isso! Dessa voragem que me consome e me faz voar e rodopiar incessantemente. De atraír o tumulto, a confusão, as guerras. De ter que lutar estupidamente para conseguir alguma paz.

Culpo-te a ti e ao pai por tudo isso que me transmitiram! Tudo!
E agradeço-vos todos os dias por isso...

Espero que consigas a paz que nunca tiveste...


P.S.: Já sinto a tua falta...