quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Hoje reparei...

L.J.



"Hoje reparei que amanhã, quando voltar para casa, vou estar sózinho, a casa vai estar em silêncio..."



Foi como retroceder no tempo, nas memórias. Nem sequer ela o consegue já fazer...

Gostava de te poder dizer que é mais fácil do que o que parece. Gostava de dizer que vais ultrapassar tudo isso. Que vais reconstruir a tua vida e tudo isso irá sêr apenas uma memória distante. Que os dias vão sêr lindos, cheios de vida e de esperança...

Não vai sêr fácil. Quase nunca o é. Acordas para mais um dia. Todos os dias. Vais têr dias em que te vais sentir só. Talvêz questionares-te se vale a pena. Se tudo vale a pena. Vais-te recordar de alguns momentos bons que perdeste. E sentires-te ainda mais só. Vais perguntar-te se foste tu que erraste. Se podias ter feito mais...

Vai doêr. Mais. Muito mais. Dói sempre.

E vais tentar fazer o mesmo. Da mesma forma. Para dares por ti a fazer tudo de novo. Da tua forma. Até que o vazio se apodere da alma.

Só então é que descobres que o pior já passou. Quando já não tens mais dentro de ti. Já não vai doer tanto. Quase nada.

Descobres que as tardes de chuva são bonitas. Que o velho chato do 3º direito até tem a sua piada. Que a Dona Lita da padaria deve ter uma vida tramada. Que afinal até nem gostas assim tanto daquele casaco que usavas tantas vêzes.

Um dia, acordas. A recordar. Num sorriso que, ontem, por instantes, te prendeu o olhar. Num olhar que, por instantes, te prendeu a alma. Um dia...



9 comentários:

Arisca disse...

Recordar. Todos os dias. Os sonhos permitem-nos "matar" saudades. Às vezes. Outras, não.
Um dia damos por nós a juntar os caquinhos. Tentamos voltar a pô-los nos seus devidos lugares. Colamo-los. Mas as marcas ficam lá, sempre. São as rugas da alma.
Custa. Dói. Magoa. Mas habituamo-nos. Eventualmente...
E quando nos habituamos à ausência, podemos dizer que as feridas cicatrizaram.
Até lá, não adianta tentar forçar nada. O luto faz-se por si próprio, quando for tempo disso.

*bons ventos,
Arisca

Anónimo disse...

Como me poderei habituar à ausência da minha filha?
O casal estava em silêncio, mas a casa tinha vida, tinha a vida gerada quando havia sentimentos.
Havia aquela pequena flor, num deserto de sentimentos bons. Havia o seu chamar pelo meu nome... isso enchia o meu dia... agora existe o vazio e o desepero está logo ali ao virar da esquina!

Arisca disse...

Receio que, à ausência dos filhos, ninguém se consiga habituar...

Anónimo disse...

Companheiro, passei aqui só para te dar um abraço, e dizer te que apesar de tudo podes contar sempre com o stressado. Com o tal que tu dizes que se atarvessa nas coisas!

Anónimo disse...

dor...luto... gostei de como descreveu seus sentimentos...acho que meu ex marido se sente assim...e eu fico pensando..será que não há um recomeço pra nós?

miúdo disse...

Quando fôr tempo disso... Mas as coisas nunca mais voltarão a sêr as mesmas, Arisca. Ganham-se algumas, é verdade mas as que se perdem... Há caminhos que, de pois de percorridos, já não têm retorno...

Beijo...

miúdo disse...

Não há remédio para as ausências dos filhos. É uma dôr que não desejo a ninguém...
Gostava de poder dizer que melhora mas não. Apenas aprendemos a suportá-la...

miúdo disse...

Eu sei disso, João. E sabes que podes sempre contar comigo mesmo que seja para te dizer que estás a errar...

Grande abraço ;-)

miúdo disse...

Os recomeços são o que são. Se o sentimento existe de ambos os lados, há sempre a possibilidade de algo poder sêr reparado. Se...