segunda-feira, 23 de junho de 2008

Solidão e os amigos...

Desconhecido




"Mas porque é que não ficas sossegado uns tempos ? Fazia-te bem..."

"Eu sei. E tenho ficado, não te preocupes..."

"Bolas, deixa lá de saír à noite. Também agora tens a mania que és miúdo..."

"Olha lá, tu também não sais com a tua mulher ? Então ? Vou ficar em casa, não ?"

"Deixa isso e concentra-te mas é no que tens que fazer..."

"Já te disse, não te preocupes com isso..."


Este era o género de conversas que eu tinha com um colega mais novo a que eu chamo de amigo. Embora eu seja mais amigo dele do que ele de mim...
Eu sei que ele se preocupa comigo. Mas também sei que ele não quer que eu ponha em risco uma certa estabilidade que profissional que existe. O que é tramado. Dá-me espaço para questionar o sentido dessa amizade.

Já lhe disse várias vêzes que não era meu pai. E que a amizade dele era muito desequilibrada. Sempre me dispus a ouvi-lo em quase tudo: problemas pessoais, problemas familiares, problemas com um certo colega que é tipo inimigo-figadal... Quando ele precisa, eu estou lá. Mas chateia-me que ele não faça o mesmo por mim.
Não gosta de perder tempo para me ouvir, nem que seja para repetir o mesmo de sempre.

Um dia testei-o: durante três dias seguidos convidei-o para ir tomar café. Ao 3º dia, disse-me o que me tinha dito nos outros dois: "Não posso". Só que, coincidência das coincidências, passado meia-hora encontrei-o com um outro colega nosso.


"Sabes, encontrei o Alexandre e vamos ter agora com..."


"João, deixa. Não tens que dar explicações..."


Ele talvez não saiba mas nesse dia desiludiu-me muito. Tal como me desiludiu quando criticou vêzes sem conta uma mulher com quem, entretanto, tive um relacionamento. Nada que ele soubesse sobre ela de concreto. Contaram-lhe...
Claro que havia uma história por detrás. Mas não interessa. O fundamental é que os nossos amigos, os verdadeiros, estão lá para o que dêr e viêr. Gostam de nós e gostam de quem nos quer e trata bem. É tão simples quanto isso...

Senti-me bastante sozinho nos primeiros tempos. Longe da familía, depois de quase 14 anos a vivêr em função da minha ex-mulher...
Teria sido mais fácil se estivesse na minha cidade natal. Lá, tenho amigos que o são realmente. Que estariam lá e não me fariam sentir sozinho.
Por isso, talvez por isso, tenha acabado por ser natural eu ter saído um pouco mais à noite, arranjando um amigo improvável, ou ter acabado por me deixar agarrar porquem me quis agarrar. Por quem teve força para o fazer e para me fazer acreditar. Só que teve um preço. Está a ter...

Creio que o João nunca irá entender tudo isto. Nem o que se perdeu...


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