- Que confusões ? Não vais começar a falar do teu pai!
- Bolas, já é tempo de lidarmos com as situações. Eu apoiei-te e tenho-te apoiado em tudo na tua vida. Só te peço que faças o mesmo.
- Eu não tenho que fazer nada. Se quiseres, falas tu e fazes o que bem entenderes.
- Não falavas assim quando te chateaste com a tua mãe. Tive que engolir muita coisa por tua causa, muito mais do que o que te estou a pedir.
- Não quero saber. Vai vêr o teu filho!
- Escuta, precisamos falar. As coisas não podem continuar assim...
- Não quero saber. E não me chateies que eu tenho mais que fazer!
- E eu já não aguento mais isto. Nunca queres falar sobre nada. Quando estás mal, eu que te ature, quando estás bem, não queres saber. Estou farto. Entendes ? Farto!
- E eu também estou farta!
- Se estás, não parece. É que só tu é que estás bem. Tenho feito tudo em função de ti. Só te peço um bocado daquilo que te dei. É pedir muito ?
- Já te disse! Não quero saber!
Sorrisos. Era o que os outros viam. Porta fora e parecia uma pessoa completamente diferente. Ou talvez não. Se calhar, ela era mesmo aquilo que eu vi. Porta fora estava tudo bem. Não tinha como não estar. Afinal, tinha tudo o que queria da vida. Uma casa, carro, um emprego estável, um marido fiel e dedicado (demasiado), um (bom) filho...
Até as discussões com os pais tinham desaparecido quando decidiu que queria ir embora daquela cidade. E eu, porque achava que apoir a nossa "cara-metade" em tudo era sêr correcto, fiz com que assim acontecesse.
Nessa altura, prometeu-me que tudo iria mudar. Que os problemas se iriam resolver. Já então eu sabia que fugir não era a solução. Que, mais cedo ou mais tarde, o passado, os assuntos não resolvidos, surgem outra vez. Ela não quis saber. Nunca quis enfrentar nada.
A felicidade pode sêr egoista e cruel. Quando se acha que o mundo nos deve quase tudo, não se olha para o lado. Muitas vêzes,este egoísmo surge disfarçado. Disfarçado de insegurança. Disfarçado de falta de amôr-próprio. Tudo serve para justificar esse egocentrismo. Nunca assumido.
Com ela aprendi que a tolerância, a paciência e a generosidade são virtudes que podem tornar-se defeitos...
Sinto-me como um miúdo. No bom sentido, claro. Quando cheguei a casa e disse "Quero-me separar", não fazia idéia de como o meu mundo se iria alterar. Ou a minha forma de vê-lo. Por isso, sinto-me como um miúdo. Com muito para aprender...
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